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10/02/2012 / Catavento Lunar

Do meu amigo N. W. Clerk – lição II

“Mas, oh meu Deus, brandamente, brandamente. Já, mês após mês e semana após semana, lhe quebraste o corpo na roda da tortura, enquanto o corpo a revestia. Não terá sido ainda o suficiente?

O que é tremendo é que um Deus de perfeita bondade pouco menos terrível seria, neste contexto, que um Sádico Cósmico. Quanto mais acreditamos que Deus fere apenas para curar, menos podemos acreditar que sirva de alguma coisa rogar-Lhe brandura. Um homem cruel podia ser comprado, podia cansar-se de tão vil prazer, podia ter um ataque temporário de piedade, como os alcoólicos têm ataques de sobriedade. Mas suponhamos que estamos diante de um cirurgião cujas intenções são as melhores possíveis. Quanto mais bondoso e consciencioso for, tanto mais inexoravelmente continuará a cortar. Se ele cedesse aos nossos rogos, se parasse antes de a operação estar acabada, toda a dor sofrida até esse ponto teria sido inútil. Mas será crível que tais extremos de torturas nos sejam necessários? Bem, a escolha é nossa. As torturas acontecem. Se são desnecessárias, então Deus não existe ou é um Deus cruel. Se existe um Deus de bondade, então essas torturas são necessárias. Porque nenhum ser, ainda que moderadamente bom, poderia de modo algum infligi-las ou permiti-las se o não fossem.

Seja como for, é o nosso quinhão.”

N. W. Clerk. Dor. p.79.

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